De Natura Maris – Urbano

De Natura Maris – Urbano

«Urbano nasce, vive e trabalha na Ilha de São Miguel, no Arquipélago dos Açores. A sua relação com este local e com a ideia genérica do que pode ser uma ilha, traduz um interesse e uma alusão a um início primordial. Ancorado a esse imaginário, o seu trabalho discorre sobre a figuração de montanhas, mares e céus, mas também sobre os vários seres que aí habitam. Nas suas obras, facilmente encontramos menções a locais, memórias, situações e personagens que pertencem àquela Ilha (veja-se, entre outras, Memória dos Banhos das Alcaçarias, ou o conjunto de intervenções onde ressurge a figura de Antero de Quental), mas também alusões ao que genericamente marca uma vivência insular, onde o mar se revela preponderante.

O interesse pelo que poderíamos apelidar por um princípio antes do tempo, é ainda corroborado pelo corpo da pintura, ou pela densidade matérica que esta apresenta. Esgrimindo um equilíbrio entre a figura e o material, ou entre a sugestão e a afirmação dos elementos, Urbano acerca-se, romanticamente, ao processo de formação da obra e conduz-nos a um exercício de arqueologia da imagem. As imagens, que ora se desenham por cima da tinta, ora se afundam na espessura da mesma, sugerem-nos uma existência preliminar, estratificada, que aparenta uma formação geológica. Reportando-se a uma dormência primogénita, ou à busca por uma essência que não é imediata, análoga aos fenómenos que o astrofísico Hubert Reeves descreve no seu livro Poeiras de Estrelas3, Urbano detém um fascínio pelo momento da criação, e pela complexidade e delicadeza que lhe são inerentes. É isso que reconhecemos nas representações do firmamento, na ligação dos continentes, ou no surgimento das plantas que, de forma recorrente, atravessam o seu trabalho».

Sérgio Fazenda Rodrigues
(Lisboa, 30 de Novembro de 2023)

————————————