Este livro, para maiores de 18 anos, conta-nos a história de Benedita Portugal de Castro, que desembarcou em 1846 em Ponta Delgada, na companhia de cinco marujos, rumo a Vila Franca do Campo, para servir a Cristo. Contrariando as suas expectativas iniciais, esta acabou fazendo história como poetisa, compositora e maestrina na orquestra do Convento de Santo André.
«Uma coisa poderia sempre adivinhar: que se alguma revolta tivesse lugar, eu estaria ao lado do povo desta ilha, digo, o que se levanta manhã após manhã, e carrega a riqueza nos ombros, para a descarregar sobre a opulência de poucos. Poderia antever essa realidade, porque nasci com um selo indelével, onde se inscrevem a liberdade e a igualdade.
Se os dias ainda me devolvem as manhãs na ilha, cabe ao leitor descobrir nestas memórias.
Cumpri a minha parte, não sem antes registá-las na Biblioteca Pública e Arquivo de Ponta Delgada.
Enquanto me lerem, sinto-me memória viva de mim!».
Benedita Portugal de Castro
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Em que parte da vida deste convento entra a música? A leitura? O cultivo das artes? A contemplação das árvores? O encontro com o mar? Em que parede desta casa está inscrito o infinito? Estamos obrigadas à bondade? Que devemos fazer aos pensamentos lascivos? Em que lugar desta casa devemos abandonar a vontade de homem? Quem esventra porcos, cabritos e vitelos? É permitido manter o coração no peito, ou temos de o deixar lá fora? Quem veste as irmãs defuntas de uma casa onde a Fé se apalpa, se excita, aviva, adormece e morre? Porque razão têm as gavetas um só puxador? O padre, que rezou a missa há pouco, visita na intimidade as irmãs? Com que frequência as luas nos pintam de sangue as pernas? Em que lugar deste convento sacrificam as crianças nele nascidas? O que fazer às penas das asas dos pássaros caídos no jardim? Quem cava o quintal? Que castigo reservam às irmãs que violam noviças? O pecado da masturbação é igualmente punido, se o coadjuvante tiver sido colhido na horta? A quem cabe enfeitar de flores a capela? As irmãs mortas por solidão são enterradas no mesmo cemitério que recebe o corpo das que morrem sifilíticas? Concluindo. Deus chamou me a esta casa para nela me santificar! Para que se cumpra a vontade de Deus, preciso que a irmã me responda a todas as dúvidas colocadas.
Autor: Henrique Levy