O Drama de Afonso VII de Portugal
Há muitos anos liderei a revolta que pôs fim a uma gélida ditadura. O povo aclamou-me rei. Sentei-me no trono do meu país, devolvendo-lhe a liberdade e a paz. Com a dose máxima de verdade, restaurei a felicidade dos portugueses. Prometi não abandonar Portugal enquanto as orquídeas e o canto dos galos resvalassem pelo tempo perdido por tão demorada e prolongada ditadura.
Hoje, a hipnótica possibilidade de uma guerra nos Balcãs atreve-se a pedir-me que dê esperanças à paz, se trocar o trono do meu país por outro, numa região que pouco conheço, apesar de minha avó paterna lá ter nascido. Sem rodeios, é este o dilema que me tortura as noites. Incapaz de construir marés, olho o pátio destas opções e desejo um horizonte prudente, necessário ao tempo da solidão e da tristeza erigidas nas minhas palavras a revelar a dignidade de não abandonar o compromisso selado com os portugueses e impedir uma feroz guerra nos Balcãs.
Este é um livro que convoca toda a humanidade. Todo o Homem está aí com a culpa, o seu medo e a solidão das suas decisões. Este livro é uma homenagem ao 25 de Abril, com um rei que liberta Portugal de uma República fascista, mas que nos inícios dos anos 90 se confronta com a decisão de se sentar no trono da Jugoslávia e evitar a guerra na Europa ou abandonar Portugal à sua sorte.
Este foi o recado que quis trazer ao mundo neste momento, em que não podemos ter medo, nem sentir culpa da situação em que a Europa parece estar a cair. E para isso, temos de ter uma consciência livre e convocar a consciência da Humanidade que tanto fez para que chegássemos aqui.
Excerto da entrevista ao autor, pela jornalista Ana Carvalho Melo, na edição de 2 de Junho de 2024 do jornal Açoriano Oriental, com o título «Eu vivo pelo fascínio das palavras e de contar histórias».
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Autor: Henrique Levy
Este livro foi sugerido na rúbrica na SIC de Luís Marques Mendes